Nostálgico em Toronto

Engraçado como as vezes parece que o tempo nos engana...
Estes dias tenho estado meio nostálgico e fico lembrando de todos os momentos que marcam nossas vidas. As vezes ainda fico em dúvida se todos aqueles momentos já passaram e tenho as lembranças do Goldman de 7 anos que corria junto com um cachorro no meio da lama na frente de casa e depois tentava se lavar pra não levar uma peia da mãe que disse várias vezes para ele não fazer isso.
Lembranças das férias que passava com minha família na casa das minhas tias na roça, onde todos se reuniam para fazer pamonha na época da colheita do milho...3 dias descascando milho e ainda assim era divertido. Quando o milho finalmente era todo descascado, saíamos todos os primos para tomar banho no riacho perto de casa, voltávamos todos imundos e tínhamos que tomar banho de cuia no quintal
As férias que passava em goiânia... as brigas com minhas primas que sempre terminavam com alguma coisa quebrada... e todo mundo ensaiando o que dizer para minha tia, caso ela percebesse a troca da lâmpada, do ferro de passar roupa ou do tanque, e ainda assim, ela sempre percebia e terminávamos todos com cara de tacho... mas era tão divertido.
Depois surgem as lembranças do Goldman que estudava pro vestibular, e passou, depois mudou de curso (4 vezes) e o frio na barriga que dava cada vez que eu queria mudar de curso quando finalmente entendia que não queria trabalhar com aquilo... Foram muitas mudanças: Psicologia, Comércio Exterior, Geologia e finalmente me formei em Economia. Mas na verdade, hoje vejo que deveria ter feito tradução... go figure...
E em meio a todas estas mudanças de cursos, me vem o conhecimento de que existe uma possibilidade de morar fora de forma legal. Meses e mais meses de pesquisa, leituras e testes para verificar se eu qualificaria para o visto, vejo que poderia ter os pontos necessários, mas havia um ponto crucial: teria que me formar primeiro, ou seja queria me formar logo...
Os empregos que foram surgindo ao longo do caminho das formas mais inusitadas e as voltas que a vida dava, sempre, sempre me surpreendiam.
A viagem até Buenos Aires para dar entrada no processo por Québec, a carta de abertura recebida... a entrevista e depois mandar tudo pra SP para dar entrada no processo federal. Até este momento, só parecia que eu estava mandando dinheiro e um monte de documentos para um Consulado, mas não tinha visto nenhuma aplicação prática, não tinha caído a ficha ainda...
Neste meio tempo, pela primeira vez na vida, surgiu em minha vida um grupo de amigos sem precedentes: pessoas maravilhosas que simplesmente entendiam tudo o que estava acontecendo, e o melhor, me apoiavam em tudo, inclusive no processo em si.Ao contrário de algumas outras pessoas que me diziam que eu estava louco e procurando sarna pra me coçar...
Finalmente chega a carta dos exames médicos: e pela primeira vez sinto um frio na barriga (nem mesmo na entrevista fiquei nervoso), começa a cair a ficha. Faço os exames e mando pra Trinidad e Tobago e 3 semanas exatas depois chega a carta solicitando o passaporte... e finalmente percebo que chegou a hora de deixar pra trás tudo o que eu tinha para poder recomeçar. Por algumas reviravoltas do destino, parece que tudo conspirou a meu favor: emprego antes de sair do Brasil, apartamento antes de sair do Brasil, a passagem que comprei com uma data fictícia para poder vir, ficar uns dias e fazer o landing, acabou sendo a passagem que usei pra vir e ficar. Até a data fictícia acabou sendo a data real.
Os eventos se encarregaram de marcar a data e depois disso, tive um mês para preparar tudo, me despedir de todos, vender tudo o que eu pude, fechar meu apartamento da melhor forma que pude (porque ficou um monte de coisas que minha família teve que lidar pra mim porque eu tinha que começar a trabalhar no dia 20 de novembro) e vir pro Canadá.
As despedidas de todos os amigos, conhecidos e da família chegam. Chegam e doem, acreditem. Poucas coisas na minha vida doeram tanto quanto abraçar meus pais e minhas irmãs e dizer adeus. É tanta coisa que passa na nossa cabeça nessa hora, porque no final das contas estava indo pra uma nova fase da vida que eu havia escolhido e mesmo assim o sentimento é de estar abrindo mão de tanta coisa pra poder recomeçar, mas no final das contas, esta foi minha escolha.
Ao sair do aeroporto em Toronto, nunca me senti tão sozinho na vida e naquele dia 01 de novembro, depois de passar pela alfândega e imigração, depois de ouvir o oficial de imigração dizer: "Welcome to Canada", depois disso tudo, eu chorei.
Depois de um råpido passeio por Toronto, cheguei em Montreal. As 4 da tarde já estava escurecendo, frio e eu procurando meu apartamento.
E agora a adaptação, que depois de quase 5 meses de Canadá está indo bem...caminhando aos poucos, mas bem. Bem ou mal, estou no meu apartamento mobiliado (apenas dois móveis, mas estou tentando economizar dinheiro pra comprar um edredon novo, ehehehe), já estou trabalhando, consigo chegar onde quero, tanto em Gatineau quanto em Ottawa, já conheço algumas pessoas e aos poucos começo a me sentir em casa e ainda tenho uma looooonga estrada pela frente...
Sabem amigos, esta viagem de uma semana a Toronto tem uma importância fundamental para mim, primeiro porque é a primeira vez que eu realmente venho a Toronto, e não estou apenas de passagem e por isso quero tentar apagar esta imagem ruim que tenho daqui. Acho que na verdade, o que acontece é que meu primeiro contato com o Canadá foi Toronto, e foi meu contato mais traumático, porque eu não conhecia ninguém nunca tinha me sentido tão sozinho na vida...E por isso Toronto sempre traz a tona as lembranças de todos estes sentimentos que tive ao chegar no Canadá, mas agora que já estou mais habituado, as coisas estão melhores...
Amigos imigrantes, preparem-se porque a carga emocional que o processo de imigração envolve é imensa. Tenham força e mantenham em mente seus objetivos, por que no começo a vontade de largar tudo e voltar é muito, muito grande.
Abraços e sucesso pra nós,